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A Cabeça do Pacu

O Pacú é um peixe da família dos caracídeos, muito abundante no rio Cuiabá e seus afluentes.

O sabor é excelente, até há que o julgue superior ao pirarucu.

Quando seco é possível guardá-lo por vários meses pois de fácil conservação. Se houvesse uma exportação regularizada, talvez constituísse boa fonte de renda para o Estado.

Há entretanto certa superstição quanto a sua cabeça.

Dizem que ao ingeri-lo, se se trata de um forasteiro, jamais este deixará Cuiabá.

Se for homem solteiro, estará fadado a contrair matrimônio com moça da terra.

E se for casado, estará condenado a terminar os seus dias aqui.

É este o prestígio e atrativo cabalístico de um cabeça de Pacú.

Certa vez, quando da disputa eleitoral entre o Brigadeiro Eduardo Gomes e o Marechal Dutra, à presidência da República, numas tréguas desse mister do voto, reuniram-se numa mesa do antigo Bar Sargentini, várias moças e um engenheiro nordestino, de grossa aliança no anular, símbolo de casamento marcado para o mês próximo, com uma moça da Bahia. Debatiam acaloradamente a atração e sortilégio da cabeça do Pacú. - Desafio, disse o rapaz, a comer hoje mesmo a cabeça do tal peixe e desmascarar essa lenda idiota, pois nestes dias estarei casado na terra das moças bonitas e comemorando a vitória do Eduardo Gomes, que é fato líquido e certo, o seu empoçamento na chefia do país. O certo porém, foi o Marechal Dutra se entronizar na mais alta investidura do Brasil e ele casar em Cuiabá, pois inexplicavelmente o seu noivado se desfez logo após.

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