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Cuiabá tem 48 opções de feira livre em diversos bairros


Em uma tarde de calor típico na capital mato-grossense, o cheiro de pastel que se mistura com o do tradicional pequi anuncia mais um dia de feira no bairro CPA 3. “É uma por 3 e duas por 5”, sentencia um vendedor, em meio ao barulho típico da barganha, ao tentar vender suas verduras.


Às 16h desta quarta-feira (23), os feirantes já haviam preparado suas barracas para dar início às vendas. Peixe, pimentas, remédios naturais, flores e até calcinhas e cuecas podem ser encontrados. A feira do CPA 3 é uma das 48 disponíveis na cidade.


Em seu site, a Prefeitura de Cuiabá disponibiliza um mapa com as feiras de todos os bairros. De terça-feira à domingo, existem opções desde o Jardim Vitória ao Pedra 90. Estima-se que cerca de 300 mil pessoas passem pelas feiras mensalmente.


Adão Manoel de Souza, 61, Sueli Lima, 62, e Adriano Gimenes, 36, fazem parte dos feirantes que peregrinam pela cidade e cada dia montam suas barracas com suas mercadorias em um lugar diferente.


Os três, além de terem em comum a profissão, estão no ofício por acaso. Encontraram na venda de mercadorias a única opção para o sustento. Adriano veio do interior de São Paulo para cobrar uma dívida do pai e acabou ganhando uma barraca na antiga feira do Verdão, Seu Adão foi convidado para vender as verduras de sua horta no lugar de um vendedor desaparecido e Sueli herdou a banca do pai.


“Eu bati na porta e não tinha emprego. Eu tentei de tudo quanto é jeito. Eu era garçom e perdi o emprego. Depois disso vi a oportunidade de trabalhar na feira. Até que comecei a vender minhas verduras e deu certo. Eu achei bom e continuei”, explicou seu Adão.


Há 19 anos na profissão, hoje ele sustenta toda a sua família com o dinheiro que consegue na venda das mercadorias. Em sua barraca, os funcionários são todos da família. Uma filha, uma neta e um cunhado ajudam na venda das verduras que ele planta e colhe.


“60% do que eu vendo é da minha horta, os outros 40% eu compro. A minha rotina é puxada, eu acordo bem cedo e vou buscar as verduras, é a primeira coisa que eu faço no dia. Depois eu já vou para minha horta e fico cuidando. Aí eu já vou pra feira e fico das 15h às 22h. Dá um lucro razoável”.


A rotina é a mesma para Sueli, que vive da venda de milho cru, cozido e pamonha. Às 5h ela já está de pé e começa a lavar, descascar, cortar e ralar o cereal para o preparo do quitute. Ela ainda se incumbe dos ofícios domésticos para, no fim da tarde, levar sua mercadoria à feira.


“Eu comecei vendendo arroz e feijão no quilo, lá na feira do Verdão, mas aí precisei mudar para o milho. Tem semana que a venda é boa, tem semana que é média, mas não posso desanimar. O que eu tiro dá para sustentar eu e meu marido. Minha filha também sustenta ela, o marido e mais dois filhos”.


Adriano é o mais novo dos feirantes entrevistados, mas ainda assim está no ofício há tempo suficiente para colecionar várias histórias. Aos 21 anos, ele ganhou uma barraca de frutas na feira do Verdão, mas precisou abandoná-la por falta de lucro. Ele então teve a ideia de aprender a fazer salgados e pastel para continuar no ramo.


“A nossa rotina é trabalhar. Eu fiz um curso profissionalizante e aprendi a fazer o salgado, a massa de pastel, aprendi a trabalhar com a mercadoria, com os recheios de carne, recheios de frango para não estragar. O dinheiro daqui sustenta minhas duas filhas do primeiro casamento e a minha mulher atual e minha filha”, contou.


Na terça-feira ele vende no Planalto, na quarta-feira no CPA, na quinta-feira no Jardim Florianópolis, na sexta-feira também no CPA, no sábado no Sol Nascente e do domingo no Santa Isabel.


“Só na segunda que não tem feira, mas nós não paramos de trabalhar. Estamos lavando panela, preparando as coisas. Tudo é feito por nós”, disse. Quando questionado sobre o valor que ganha em sua banca, ele é enfático: “É aquela velha história, dá para sobreviver bem, mas não dá para saber quanto ganha”.

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